Depois de longa temporada longe
daqui, venho para falar sobre sentir o chão nos pés, bem firmes. Já dependi
menos desta parte do planeta. Era mais ar, mais fluida. Brincava com o flutuar.
Pra quê chão quando se tem as nuvens? Então...Hoje, o meu sonhar percorre suas
léguas em estradas comuns, onde a lei da gravidade opera com perfeição.
Às vezes, a vida ou os outros nos
roubam este chão. Também cometemos isto com os outros. Por melhor que tentemos
ser, um dia arrancamos o solo de alguém. Parece uma fase do jogo da vida que
todos temos de passar, mesmo que não queiramos machucar. E o pior: sem dó, nem
piedade, ainda que sintamos muito a ponto de sangrar. Se ainda não fez isso, eu
garanto que seu dia de espetar um coração chegará. E, talvez, doa mais em você
que no outro. Já estive dos dois lados e, por isso, prezo tanto pelos meus
pezinhos, tamanho 36, bem firmes no chão.
Outro dia entrei no mar e fui
indo, indo, indo, cada vez mais adentrando. Água já no queixo e também na
pontinha dos pés. Mas continuei indo. Veio uma onda e, não me pergunte por que,
engoli água, salgou minhas narinas bem dentrão. Horrível. O pior de tudo foi
que no pós-onda não tinha chão e nem força, nem ar para boiar, nem calma.
Acenei para o amigo que estava comigo. Ele me levou com amor para onde as
crianças de oito anos. Antes, pediu que eu ficasse com ele lá onde me resgatou.
“Confia em mim!” Confio nele, claro!Mas confio mais em mim. Me percebi menos
romântica, menos sonhadora, menos nuvens de algodão doce.
A necessidade que tenho hoje é de
saber onde estou, para onde vou e com quem estou. Na dúvida, me finco feito
jequitibazeiro de longa idade. Por hora, meus voos são em terra firme.
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