De que valeria a vida não fossem
as sensações? Todas elas. Pegar o vento com a mão fora do carro em movimento,
sentir o ar faltar de tanto amor, deslizar em uma banheira de água quente num
dia de frio extremo, sorrir de nervoso, câimbra na mandíbula depois do vinho
seco. Ver as cores, as flores, as formas. Acariciar devagar a pele de quem se
quer. Gravar para sempre o cheiro do cabelo de nossa mãe e dos nossos filhos.
Relembrar a textura e o ritmo do beijo tão esperado. Ver o sol nascer cheio de
paz e se render ao carinho do frescor matinal. Sentir a felicidade pulsar
dentro de si como uma coca-cola quente agitada. Repirar fundo. Não existe nada
melhor no mundo que abraçar de corpo todo. Sorrir. Gargalhar até perder a
compostura. Ouvir boa música olhando estrelas. Dar aquele gole bem dado da sua
bebida preferida depois de um dia de trabalho e preocupação. Dançar desprendidamente.
Amar e também se apaixonar. Cantar o mais alto possível. Banhar de chuva.
Mas também falo daquelas
sensações doídas. Aquelas que ninguém quer sentir, mas que são parte do preço
que pagamos por estarmos vivos aqui, neste mundo tão sensorial. Pode ser uma
enxaqueca, uma topada na quina da cama, uma desilusão amorosa, dor nos ossos,
ver um amigo sofrer, perder alguém querido, se ver sem saída e mesmo assim ter
de continuar, ter de engolir o choro e ainda precisar ensaiar um sorriso,
sentir-se impotente, ser impotente. Ver-se frustrado. Um espinho no pé.
Vergonha. Timidez. Ter ferida, a autoestima. Arrependimento. Pegar na panela quente. Ouvir
discussão alheia. Susto. Fome. Se ver só,apesar dos trilhões de pessoas que
habitam a Terra. Saudade!
Tudo é válido. Tudo de bom e de
ruim que sentimos só quer dizer que estamos vivos; e isto é maravilhoso. Por
isso, agradeço a toda espécie de sensação que me chegue. Sinto, degusto, toco
todas elas. A vida é isso.