quinta-feira, 26 de julho de 2018

Uma certa garota dinamarquesa



Passei por um pequeno procedimento cirúrgico na quarta. Os três dias seguintes, de molho em casa. Fui às séries. Já entediada, dei uma olhada no que tinha de filme interessante que eu ainda não tivesse visto. Eis que “A garota dinamarquesa”! Kom igen !

Assisti e me senti como aqueles casais que se perguntam “Como não te encontrei antes?”. Que beleza de filme! Como não consultei informações prévias, o vi com olhos nus. Um despetalar suave cena após cena.

O filme é baseado em fatos e a história original se passou entre os anos 20 e 30, em Copenhagen, na Dinamarca. Um famoso pintor (Einar Wegener) casado com a também pintora, Gerda Wegener, começa a ver em si o desejo de ser mulher; algo reprimido desde a infância e que voltou a ganhar vida quando sua esposa pediu que o marido pusesse meias e vestido para que ela terminasse uma pintura.

Bem, Einar tocou o tecido daquele vestido e o deslizar de seus dedos pela seda em corte feminino lhe trouxesse à tona quem realmente era. A partir daí muitas surpresas e diálogos formidáveis. Não se preocupem. Evitarei spoiler (rs).

Inevitável não fazer um comparativo com o que vivemos quase um século depois daquela história se passar, no referente ao preconceito, à homofobia e à violência contra todos que fazem parte do universo libertador LGBT.  Os sentimentos de Lili, precursora na cirurgia de mudança de sexo, são os mesmos sentimentos de muitos nos dias atuais.

É muito incompreensível ver quão pouco avançamos em quase cem anos.  O quanto ainda se importam com quem se dorme, se são dois homens ou duas mulheres, ou uma mulher que se sente homem casado com um homem que se sente mulher.

E os sentimentos das pessoas? E o respeito pelo que se é? Por que não se preocupar se o outro está feliz, ao invés de apontar o dedo sem direito algum? Como se consegue não evoluir? Como se involui diariamente sem nenhum pudor? Aquele suspiro desbotado...

Daí uma pausa para refletir e também aplaudir o talento de Alicia Vikander (Gerda) que, neste filme, está a cara da Sophie Charlotte (comentário que não enriquece, mas quis fazer com vocês..rs). Ela deu um banho de interpretação! Como abrilhantou aquelas duas horas! Sem dúvida a carga dramática que nos acomete vem muito por conta de sua habilidade e expressividade. Nossa!

O filme valeu muito o meu tempo. Talvez valha o seu também. Se ainda não assistiu, vai lá. Está na netflix.






quarta-feira, 4 de julho de 2018

Respeite seus machucados


 
*Cheguei de viagem com uma inquietação dentro de mim. Concluí meu trabalho, peguei o fone, coloquei Adele e vim aliviar meu peito agora com vocês. Espero que gostem.

O papo de hoje é reto. Precisamos passar a respeitar, reverenciar as nossas dores, os tombos que levamos na vida. Lembra daquele fundo do poço que todo mundo um dia chega e acha que nunca vai conseguir sair? Então, zamures. A gente consegue sair dele, sim. Ainda que seja com os pezinhos despelados, suportamos passar sobre a brasa e seguir sarando dia após dia até um dia olharmos para trás e entender que somos mais forte que o próprio fogo, porque ele vira cinza e nós nos refazemos.

E todos os muros que ultrapassamos a duras penas, e toda aquela imensa escalada concluída mesmo quando se tem medo de altura... foi tudo isso o que nos tornou quem somos. Mas levantar, muitas vezes, nos custou muito caro e, também por isso, somos caros, valiosos, especiais. Sobreviventes refeitos numa modelagem muito mais além e digna de admiração.

Não somos melhores que os outros, mas cada um tem o seu grande valor. E chegar até onde chegamos nos obriga a nos proteger de tudo ou qualquer coisa que nos faça duvidar sobre quem somos.  É fundamental enxergarmos nossas falhas, mas, sobretudo, nossas vitórias e o caminho percorrido.

Me incomoda quando isso acontece comigo. Me deixa louca quando vejo acontecer com alguém querido. Pessoas super inteligentes, fortes, guerreiras, mas que, por algum motivo, as vejo (me incluo) vulneráveis e esquecem de olhar para trás e ver o quanto já foi conquistado.

Tão bom sorrir leve, abraçar de verdade, dançar pelo meio da rua, fazer careta pra arrancar o sorriso de alguém, acordar e ver que a vida continua toda faceira. Nada no mundo tem o direito de mexer com nossa paz. Nada.

Ai, gente! Bora lá! Vamos nos olhar dentro e nos impormos. Não aceitar qualquer coisa, qualquer situação, seja pelo motivo que for. Respeitemos nossos machucados! É um exercício diário e pra vida toda, mas muito recompensador.