Passei por um pequeno procedimento cirúrgico na quarta. Os três
dias seguintes, de molho em casa. Fui às séries. Já entediada, dei uma olhada no que
tinha de filme interessante que eu ainda não tivesse visto. Eis que “A garota
dinamarquesa”! Kom
igen !
Assisti e me senti como aqueles casais que se perguntam “Como
não te encontrei antes?”. Que beleza de filme! Como não consultei informações
prévias, o vi com olhos nus. Um despetalar suave cena após cena.
O filme é baseado em fatos e a história original se passou
entre os anos 20 e 30, em Copenhagen, na Dinamarca. Um famoso pintor (Einar
Wegener) casado com a também pintora, Gerda Wegener, começa a ver em si o
desejo de ser mulher; algo reprimido desde a infância e que voltou a ganhar
vida quando sua esposa pediu que o marido pusesse meias e vestido para que ela
terminasse uma pintura.
Bem, Einar tocou o tecido daquele vestido e o deslizar de
seus dedos pela seda em corte feminino lhe trouxesse à tona quem realmente era.
A partir daí muitas surpresas e diálogos formidáveis. Não se preocupem.
Evitarei spoiler (rs).
Inevitável não fazer um comparativo com o que vivemos quase
um século depois daquela história se passar, no referente ao preconceito, à homofobia
e à violência contra todos que fazem parte do universo libertador LGBT. Os sentimentos de Lili, precursora na cirurgia
de mudança de sexo, são os mesmos sentimentos de muitos nos dias atuais.
É muito incompreensível ver quão pouco avançamos em quase cem
anos. O quanto ainda se importam com
quem se dorme, se são dois homens ou duas mulheres, ou uma mulher que se sente
homem casado com um homem que se sente mulher.
E os sentimentos das pessoas? E o respeito pelo que se é? Por
que não se preocupar se o outro está feliz, ao invés de apontar o dedo sem direito
algum? Como se consegue não evoluir? Como se involui diariamente sem nenhum
pudor? Aquele suspiro desbotado...
Daí uma pausa para refletir e também aplaudir o talento de Alicia
Vikander (Gerda) que, neste filme, está a cara da Sophie Charlotte (comentário
que não enriquece, mas quis fazer com vocês..rs). Ela deu um banho de
interpretação! Como abrilhantou aquelas duas horas! Sem dúvida a carga dramática
que nos acomete vem muito por conta de sua habilidade e expressividade. Nossa!
O filme valeu muito o meu tempo. Talvez valha o seu também.
Se ainda não assistiu, vai lá. Está na netflix.