quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fachada verde

(Aconselho ouví-la pra dar um clima bacana durante a leitura-rs)
http://www.youtube.com/watch?v=hzODagHjWU0&feature=fvst


Cauã não sabia dirigir, nem fazia questão. Há anos pegava a mesma linha de coletivo. Há décadas fazia o mesmo percurso. Sabia quem chegava e quem partia; os comércios que tinham vingado e os duraram uma chuva. Controlava sua região de dentro do ônibus, mudo e sempre no acento da janela à direita.

Numa dessas viagens reparou numa moça que pintava de verde a fachada da casa. Se perguntou: “Porque verde?Humhum...rs”. Ele passou a observar aquela moça diariamente. E de tanto os olhos dele faltarem ficar naquele ponto, enquanto o ônibus passava, ela também o notou. Ficaram se olhando e se rindo todos os dias. Por vezes, ela parava os afazeres pra vê-lo passar, fizesse chuva ou sol. Cauã perguntou o nome dela, mas não conseguia ler seus lábios. No dia seguinte ele leu num cartaz feito de cartolina: MARIANA. Era esse o nome dela.

Naquele tempo não tinha essa facilidade pra se comunicar como nos dias de hoje. A criatividade era os fios, as imagens e os sons. Dava pra saber quando a pessoa estava realmente interessada. Afinal, ninguém atravessaria a cidade na chuva noturna só pra dizer que estava com saudade se não estivesse bem “caidinho”.

Esses meus parênteses...rsrs...Onde eu estava mesmo?Ah...sim...Então passaram a se comunicar por cartaz. A vizinhança de Mariana acompanhava o affair como se fosse uma novela. Eram letreiros de lá e cá que saíam de casa prontos como seus donos: “BOM DIA! SAUDADE”; “VOCÊ TÁ BEM?”, “VOCÊ É LINDA”, “O QUE HOUVE ONTEM?”. E assim passaram-se meses nesse trelelê.

Até que um dia ela não apareceu. Nem no seguinte. Nem no outro. Uma tia da moça foi quem apareceu uma semana depois segurando o cartaz: “DOENTE”. Cauã ficou desesperado. Faltou o trabalho e foi à casa de Mariana. Viram-se inteiramente pela primeira vez como se já se houvessem explorado tanto. Mariana ardia em febre. Febre de saudade, de querer. Febre de amor. A presença do rapaz curou Mariana, que nunca mais teve este tipo de febre...

Ah!Porque o verde na fachada?Para Mariana significava a esperança de viver um grande amor...