quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O IMPREVISTO



Tava aqui me gargalhando. Gosto demais do inusitado! A noite começou num luau com cara de matinê. Era menino demais!Eu estava acompanhada de uma amiga que tentava se animar e de outra que tem a paciência do tamanho de um O.B de lêndea. Como me divirto com pouco, bastou uma loira dançar fora do tempo, do ritmo, da órbita pra me entreter e me fazer pensar: “Será que também fico assim quando bebo um pouco mais?”.

Minha “diversão” durou meia hora. Saímos de lá e fomos procurar um programa de gente grande. Numa cidade pequena, onde encontrar algo empolgante? E não é que encontramos!Mas a amiga que tentava se divertir agora queria por tudo pegar a BR da cama. Ficamos eu e a amiga com paciência de O.B de lêndea. E aí surgiu o imprevisto. O IMPREVISTO. 

Voltamos a ser três. E na hora de ir embora a matemática fundiu minha cabeça e o que era pra ser um tava dando dois. A conta não batia, mas depois de ver uma atriz cantando fado e dançar estranhamente no meio da rua, o resultado era o que menos importava.

Não esqueço a expressão do grupo que acompanhava O IMPREVISTO. “Tem certeza que quer ficar aqui? Tem certeza,né?!”. E ali mesmo O IMPREVISTO entrou de mala e cuia. Perguntei logo: “Consegue dormir sem ar condicionado?”. Respondeu foi ligeiro: Consigo!E ali mesmo se abancou.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O vizinho da direita


Tô tirando os anéis e pulseiras pra ficar mais livre pra escrever sobre ele, que é tão livre musicalmente. Nada paga ter um vizinho da direita como ele. Seu quarto fica ao lado meu. Um muro e dois corredores nos unem e nos separam. Desde que ganhei este vizinho acho até bom acordar cedo todos os dias. Mas também...desperto com ele tocando as mais lindas canções no violão. E parece que a sintonia dele fecha com a minha. Adivinha meus pensamentos. Me dá conselhos por meio das canções e suas notas ainda tentando se acertar completamente. Longe de ser um profissional. 

Um dia quase não acredito. Eu estava no auge de uma paixão; e é sabido que toda paixão tem trilha musical. Nesta época, a “Sanfoninha Choradeira” ritmava meus suspiros. Num é que às seis da manhã tava ele lá com sua viola... “Chora sanfoninha,chora,chora...Chora sanfoninha minha dor...” . Fiquei verde,amarela, levantei,sentei,sorri,deitei,levantei de novo, lembrei do meu amor da época, olhei no espelho e comecei a cantar com ele, sem ele saber!Um dia eu estava meio cinza e ele cantou bem altão... “Parece cocaína, mas é só tristeza...”. Fiquei assim ó. Aquele desabafo era pra sair de mim,mas ..tudo bem...me senti contemplada.

Sem falar que ele vai de Flávio José a Kátia Cega num segundo. Nem pisca. Um dia ele saltou de Eliane para Mano Crispim... Ele é uma rádio só minha!rs 

Ah...e ele faz uma coisa que eu acho demais. Ele pira muito quando está sozinho.Pira demais mesmo!Eu sorrio em minutos o riso de um ano inteiro! Ele bota umas músicas bem altas, aí quando acaba de tocar ele solta um gritinho “U-uuuuuuuuuuo”. Como se tivesse no show, sabe como é?! Acho isso demais!!!rs.

Ele é super tímido e vê-lo soltando todos os bichos em casa me faz sentir íntima. Não lembro seu nome, mas isso é o de menos. Eu conheço seu gosto musical que é tão maluco quanto o meu!rs. E acho demais tê-lo como vizinho da direita!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Aquele abraço...

"Onde,afinal, é o melhor lugar do mundo?Meu palpite:dentro de um abraço...". - Martha Medeiros.

A meu ver, aperto de mão, “dar de cima”, batida de mãos...nada disso é tão determinante para o princípio de uma boa relação como um abraço bem dado. Pode ser uma relação de amizade, de trabalho, de amor...enfim... Acho que o abraço serve como termômetro pra saber se a parceria vai dar certo, seja lá em qual ramo for. Os místicos dizem que abraço é coisa séria. Que por meio dele acontece uma troca de energia muito forte. Então é bom ficar atento quando for trocar abraços.... Mas tendo vontade...corra!Corra pra ele!

Tenho ótimas histórias com abraços, mas uma é especial. Em um tempo fiz amizade com um moço apaixonado por poesia, assim como eu. Assim como eu, ele também tinha seus ensaios, seus rabiscos, um pouco de si em métricas e rimas. 

Fomos apresentados, mas depois disso nosso contato foi apenas por telefone durante muito tempo. Sempre à noite. Ambos ocupados, manhã e tarde. Tínhamos teorias malucas que pra nós faziam todo sentido e discutindo sobre elas, varávamos madrugadas: eu de um lado da linha e ele do outro até marcarmos o primeiro encontro.

Ele morava num flat e depois de meses enriquecendo a, na época, Telepisa...convidou meio sem jeito: “Olha, o que você acha de trazer seus escritos e eu te mostrar os meus aqui no flat”....Cri...Cri...Cri... Me soou estranho...Pensei: “Eu ir a um flat encontrar um moço que conheço pessoalmente,mas só tenho contato por telefone?”...Alguns longos segundos depois, a resposta afirmativa. “Certo!Quando?”. 

E no dia e horários marcados fui. Íamos trocar nossas figurinhas no hall, mas estavam fazendo uma entrevista lá e não ficaríamos à vontade. Ele convidou além. “Você não leva a mal se eu te convidar pra subir?Aqu i está meio tumultuado para falarmos de poesia.”...Caracas....Aí a mulher gelou,esquentou,gelou de novo... No meu balãozinho...“E se ele for um maníaco?E se tiver mais alguém lá?E agora?”..... Mas a máscara de mulher mais segura do mundo respondeu que sim. “Imagina...Vamos lá!”.

Subimos e na porta da suíte dele...antes de entrarmos...um abraço. Nossa!Que abraço!Que encaixe!Que abraço macio. Nem sufocante, nem solto demais. Um abraço com o aperto certo. Ele vestia uma camisa de malha inteira branca. Fechei os olhinhos pra aguçar o sentido do tato. Lembro de respirar fundo e senti-lo. Demorou o tempo necessário para despertar coisas em mim e nele... Até hoje lembro do cheiro daquele momento. Lembro da altura do sol. E que outra coisa não...mas calor tinha demais!rs. Foi o início de uma paixão que durou dois anos. Hoje continuamos muito, muito amigos. Nos queremos muito bem.Ele não mora mais aqui, mas confesso...aquele é o abraço que sinto saudade. Uau!



quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nós quatro no chuveiro!


Um dia, em outra cidade, entre quatro, seis, oito..sei lá quantas paredes,  havia um meio estresse da parte de lá. Nada que a milagrosa massagem nos pés com aquele trambolho não resolvesse. 

E eu mesmo tendo dormido a tarde inteira em outro local, estava cansada de esperar por sua chegada...Nunca demorou tanto chegar sete da noite. Me desloquei até lá, baixei a maçaneta e hospedei a mala. Mesmo exausta, uma enxurrada de carinhos! Sentei na beirinha da cama, botei na tomada o massageador, em seguida procurei uma que prestasse(rs) para, enfim, descansar o rapaz com aquelas “tremidinhas” frenéticas na sola de seus pés.rs.

Passaram a noite, a noite e a noite..Algumas noites dentro de uma só. Naquele momento, apenas ficar perto já era nuvem de algodão doce. Ai,ai...Enquanto escrevo, um suspiro longo e degustado, ouvido e refletido. 
Olhos que não param de sorrir.

Amanheci seca por imagens daquele local que gritava para sobreviver em meio à avalanche de modernidade. Prédios do século passado. Cada um de braço dado com histórias mil. E da janela do segundo piso, as histórias sendo tão bem repassadas para esta garota ainda assimilando a beleza da arquitetura local. 

Antes de descer para corujar aquele centro, um banho só meu, enquanto o outro espichava-se na horizontal. Debaixo do chuveiro: Eu, Bebel Gilberto, Cazuza e Dé... “Quando a gente conversa, contando casos besteiras. Tanta coisa em comum, deixando escapar segredos. E eu nem que hora dizer. Me dá um medo...Que medo!Eu preciso dizer que te amo. Te ganhar ou perder, sem enganos...”.

E assim foi musicado aquele banho.Do começo ao fim cantei apenas esta...baixinho, suave, devagar, com arrepios vindos das lembranças de minutos antes. Coisa boa... Saí enrolada na toalha e ele pediu: “Canta de novo!”

 

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Sítio do Picapau Amarelo apresenta...

Vem...Entra que o Sítio está de porteira aberta pra você!!!

 

             Quantas gerações sorriram o sítio e viveram aventuras inesquecíveis com aquela turma.  Não desmerecendo a segunda versão adaptada à TV, mas a primeira... que tesouro! A primeira adaptação do Sítio do Picapau Amarelo para televisão aconteceu na TV Tupi em 1952. Onze anos depois a TV Futura fez uma outra versão. Mas o formato que tornou a obra um tremendo sucesso na telinha, foi o da rede Globo, que ficou no ar de 1977 a 1986. Era um dos momentos mais esperados pelas crianças de todo o Brasil!Os jovens e adultos passariam pela sala, mas o Sítio segurava-os no sofá... “Vou ficar aqui ‘olhando as crianças’”...Ãhã...(risos).

             Eu amava ser cúmplice das presepadas da boneca Emília, que tinha solução pra tudo no mundo e adorava comprar briga com a bruxa Cuca. E os conselhos do sábio Visconde de Sabugosa?Não se perdia um!rs. Eu morria de invejinha do apetite do Marquês de Rabicó. Amava...ops..Amo todos: Pedrinho, Narizinho, Tia Anastácia, Quimdim, dona Benta, o Saci, o tio Barnabé, o Anjinho,o Conselheiro, que é o Burro Falante...Todos!Cada um é uma grande moeda de ouro que forma este grande tesouro!

           A equipe formada na rede Globo (direção, produção, técnica) era tão brilhante quanto os escritos de Lobato. Pareciam ter vindo do Reino das águas Claras. Pérolas, pérolas e mais pérolas. Na direção geral, Geraldo Casé, jornalista, escritor e profundo conhecedor do bicho televisão... Um homem inteligentíssimo. Ah... Geraldo também compôs em parceria com Dori Caymmi músicas de trilha sonora como “A Cuca te pega”, Rabicó” e Quimdim”. Ok... E também é pai de Regina Casé.

         Como autor principal, o magnífico, o esplendoroso, Benedito Ruy Barbosa, também autor de sucessos como Pantanal, Renascer, O Rei do Gado, Cabocla, dentre tantas outras obras admiráveis. Os parceiros de Benedito na autoria do Sítio foram Maria Clara Machado, Luís Fernando Veríssimo, Wilson Rocha e Lúcia Machado de Almeida...Sou encantada pela seriedade com que este trabalho foi feito...

         As técnicas de efeitos especiais eram bem diferentes das de agora, mas tinha algo tão mágico que nenhuma tecnologia atual é capaz de oferecer. Tinha amor, sonhos, esperança. O Sítio nos dava a sensação de existirem vidas paralelas: uma dentro e outra fora daquele lugar comandado por Dona Benta. Ou seria por Emília?Enfim, queríamos todos ser conduzidos fosse por quem fosse.

       As histórias eram tão cheias de valores morais, tão pouco explorados pela mídia infantil de agora... As relações de respeito entre família e amigos, mostradas lidamente. O ambiente bucólico criava uma ligação maior entre as crianças da natureza, outro traço bem bacana desta obra. 

        Embalando todo este patrimônio, vinha a direção musical e trilha sonora, que ficavam a cargo de Dori Caymmi. Ou seja, os ouvidos também passavam muito bem, enquanto os olhos se deleitavam com as peripécias de Emília e sua patota. Fizeram parte da trilha sonora gênios da música como Chico Buarque, Francis Hime, Geraldo Azevedo, Moraes Moreira, João Bosco, Sérgio Ricardo, Ivan Lins, Jards Macalé, Radamés Gnatalli, Gilberto Gil e Victor Martins. Nossa!!!

       Quem também teve a oportunidade de participar do melhor programa infantil do MUNDO, segundo a Unesco, foi José Mayer. Ele estava no início da carreira de ator e, no Sítio, dublou o personagem Burro Falante.

       Sinto-me privilegiada por ter feito parte da geração Sítio do Picapau Amarelo!Obrigada, Lobatinho, por esta tão maravilhosa herança!!!E pra terminar meu resgate, vou deixar pra vocês a abertura original deste clássico da literatura infanto-juvenil brasileira!


P.S.:
Sabia que o Sítio do Picapau Amarelo surgiu durante uma partida de xadrez entre Toledo Malta e Monteiro Lobato? Pois foi! Em 1920, durante uma partida de xadrez, Toledo Malta contou a Lobato a história de um peixinho que, saído do mar, desaprendeu a nadar e morreu afogado. Lobato diz que perdeu a partida porque o peixinho não parava de nadar em suas idéias, tanto que logo sentou-se à maquina e escreveu A História do Peixinho Que Morreu Afogado. Este conto deu origem ao livro A menina do narizinho arrebitado, que é nada mais, nada menos do que a origem do Sítio do Picapau Amarelo. Até hoje os pesquisadores buscam o conto, já que Lobato não se lembrava onde o publicou.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pobre é milagre de Deus...

Olhe, digo de certeza! Pobre não pode adoecer. E a classe média tá pra não poder também.Por essas épocas,só quem pode se dar a esse desprazer são os abastados. Minha gente, um coitado que ganha um, dois salários mínimos não tem como adoecer. Médico é como cometa Halley e dinheiro pra comprar remédio, cadê?
E ainda tem quem não acredite em milagre. A existência de gente pobre no mundo é um dos maiores milagres. O pobre se alimenta mal (quando come), fica exposto a esgotos a céu aberto, pega todo tipo de doença (espinhela caída, dor nos quarto, moleira mole, tosse de cachorro,frieira,pereba,curuba,tersol, dor no pé da barriga, pano branco,impinge, bicho de pé, disenteria), a casa que não pode ver o céu nublado que já cai, vive em alto grau de estresse, e mesmo sem assistência médica,nem remédio ainda continuamos vivos e de dente aceso.
Pra completar a desgracença, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) autorizou reajuste de até 5,85% nos remédios e a partir deste abril, os milagres têm que aumentar... Crê?

Chegando o fim do mundo
De tudo a gente vê
Pobre adoece e morre
Pelo fato de não ter
Dinheiro para o remédio
E médico pra lhe atender...

Criança é dor de barriga
Jovem,impingem e fieira
Adulto é dor de dente
Velho,artrose e papeira
Pobre tem que apelar
Pra reza da curandeira

Pra aumentar o desmantelo
Governo faz aumentar
O preço do remédio
Que pobre não dá pra comprar
Ô meu Deus dos doentinhos
Não deixe milagre faltar!

(L.M)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fachada verde

(Aconselho ouví-la pra dar um clima bacana durante a leitura-rs)
http://www.youtube.com/watch?v=hzODagHjWU0&feature=fvst


Cauã não sabia dirigir, nem fazia questão. Há anos pegava a mesma linha de coletivo. Há décadas fazia o mesmo percurso. Sabia quem chegava e quem partia; os comércios que tinham vingado e os duraram uma chuva. Controlava sua região de dentro do ônibus, mudo e sempre no acento da janela à direita.

Numa dessas viagens reparou numa moça que pintava de verde a fachada da casa. Se perguntou: “Porque verde?Humhum...rs”. Ele passou a observar aquela moça diariamente. E de tanto os olhos dele faltarem ficar naquele ponto, enquanto o ônibus passava, ela também o notou. Ficaram se olhando e se rindo todos os dias. Por vezes, ela parava os afazeres pra vê-lo passar, fizesse chuva ou sol. Cauã perguntou o nome dela, mas não conseguia ler seus lábios. No dia seguinte ele leu num cartaz feito de cartolina: MARIANA. Era esse o nome dela.

Naquele tempo não tinha essa facilidade pra se comunicar como nos dias de hoje. A criatividade era os fios, as imagens e os sons. Dava pra saber quando a pessoa estava realmente interessada. Afinal, ninguém atravessaria a cidade na chuva noturna só pra dizer que estava com saudade se não estivesse bem “caidinho”.

Esses meus parênteses...rsrs...Onde eu estava mesmo?Ah...sim...Então passaram a se comunicar por cartaz. A vizinhança de Mariana acompanhava o affair como se fosse uma novela. Eram letreiros de lá e cá que saíam de casa prontos como seus donos: “BOM DIA! SAUDADE”; “VOCÊ TÁ BEM?”, “VOCÊ É LINDA”, “O QUE HOUVE ONTEM?”. E assim passaram-se meses nesse trelelê.

Até que um dia ela não apareceu. Nem no seguinte. Nem no outro. Uma tia da moça foi quem apareceu uma semana depois segurando o cartaz: “DOENTE”. Cauã ficou desesperado. Faltou o trabalho e foi à casa de Mariana. Viram-se inteiramente pela primeira vez como se já se houvessem explorado tanto. Mariana ardia em febre. Febre de saudade, de querer. Febre de amor. A presença do rapaz curou Mariana, que nunca mais teve este tipo de febre...

Ah!Porque o verde na fachada?Para Mariana significava a esperança de viver um grande amor...