sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Dilermando: passaporte no gerúndio


Dilermando Reis é uma viagem com vários destinos. Adiante são minhas impressões sobre algumas canções executadas por este músico incrível. Escrevi de acordo com o que ouvia; portanto, escute-as enquanto lê. Faz parte do ritual.Do contrário, nada fará sentido.

P.S.:Alguns vídeos não são com Dilermando.Não encontrei todos.

Esta me transporta para o cinema mudo. Poderia ser trilha de Chaplin e suas perninhas apressadas. Na minha realidade, parece o dia de fazer a faxina em casa, tirar pó das coisas, botar roupa pra lavar, reclamar do latido do cachorro que mora ao lado, amarrar o cabelo pra não atrapalhar na labuta, enxugar a testa com o antebraço e ao final dia passar três horas no banho achando que o dia foi o maior barato!rs...Avante!rs

Há um par de taças de tinto seco!Aquele ar de mistério na sala. Uma conversa que diz uma coisa, mas quer falar outra. As mãos que não fazem idéia de como se comportar. Ambos esperando que até o final da noite ainda sobrem lábios na boca depois de tantas mordiscadas... E numa reviravolta, as taças quase secas são deixadas por não sei onde.

Nesta, eu poria por sobre, um soneto de Vinícius ou Tom. Parece tanto com o Sarau do Cinéas. Aquelas pessoas leves, o ambiente... um aconchego só. Parece também com dor de amor: sofrida, calada, desesperadamente inerte e com gritos agudos por dentro. 

Mesmo sendo da década de 60, esta música me remete aos anos vinte e à primeira fase do movimento modernista, juntamente com todos os seus adereços: semana de arte moderna, revista Klaxon, Tarsila, Pagu, aqueles chapéus maravilhosos usados pelas mulheres, bondinho e tudo o que reflete a exuberância daquele momento histórico.

Basta minha audição avistar esta canção pra minha face espanhola surgir. Rodopiando com meu vestido longo, estampado e rodado, cercada por homens sentados, de olhos atentos a todos os meus passos. Levantando a saia com a mão esquerda até a altura do joelho. Na outra mão, a castanhola frenética. O pisado firme no chão é o metrônomo. O batom encarnado e os olhos marcantes fitam um a um. Não poderia faltar, claro, a flor no cabelo.

Tenho associado esta à Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, mesmo sem conhecê-la. Assim como a música, a Confeitaria tem um requinte desde a fundação, em 1894. Antigamente, apenas a alta sociedade carioca tinha acesso ao lugar. Eram homens de grandes negócios, cronistas e mulheres, também da hight society. Hoje, com a arquitetura original ainda conservada, a Colombo mantém seu charme e elegância.

 (Abismo de Rosas)
Vejo um casal de cabeças branquinhas e olhares tão cúmplices... Aqui, o mais profundo amor: sentido, alegre, triste, doído, amado, lutado, desejado, de bodas. O amor vivido em sua plenitude. Por entre os dois,tantos momentos, perdas, aniversários de filhos e netos, desentendimentos, perdões, viagens, confidências, gargalhadas. E a certeza de que terminarão a vida assim...de mãos dadas.

(Tristesse)
Tristesse é a cara de Natal europeu. Criancinhas com bochechas rosadas. Todas empacotadas e fazendo “guerra” com bolinhas de neve. Na casa, um pinheiro, perto da lareira, cheinho de enfeites natalinos e os presentes ansiosos para serem descobertos.

Pra terminar, um boêmio trajando terno branco e fazendo serenata na janela da moça. Ele querendo o “sim”, mas não tendo, vai cantarolar em outra e outra e outra janela até conseguir a resposta afirmativa! Como ama, este rapaz!rsrs

                                                                  

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