quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Volta dos que não foram



A primeira vez que entrei lá quem me recebeu de braços abertos foi um susto. Um imenso couro de cobra esticado na porteira avisava alguma coisa. Engoli seco o medo antigo e me permiti ver todas as nuances das folhagens, o cheiro de mato misturado com cocôs de cavalo e vacas.

Com 15 anos a gente pensa que sabe tudo mesmo sabendo que viu tão pouco. Uma conta que não bate. Mas na Volta da Várzea eu queria mesmo era voltar à meninice. E voltava sempre que adentrava aquela bendita porteira.

O primeiro convite veio durante um intervalo da escola. Uma “recém-amiga” me perguntou se minha deixaria eu viajar com ela para fazenda da sua família. Felizmente minha mãe já permitia certas solturas. 

Foi na Volta onde aprendi a andar a cavalo, banhar de rio, correr grandes perigos. De manhã cedo tomávamos café naquela típica mesa de interior: cuscuz, ovo, leite ainda espumando, queijo artesanal, carne de sol. Um banquete. Depois de nos fartarmos cada uma seguia para seu cavalo, já celado. Atravessávamos a BR e do outro lado, um campo enorme de mato baixinho com trilhas e muito ao longe uma casa de palha. O lugar perfeito para travar corridas entre nós. Éramos muito velozes. Tudo resultado da inconsequência juvenil. Hoje, talvez umas galopadas bem comedidas.

Pegando um dos caminhos, o rio Jenipapo. Campo Maior tem sim seus encantos. Quantas vezes fomos àquele lugar nos refrescar e molhar a cela dos cavalos, para ira do  tio Mariano, pai de Marina. A gente nem se importava (risos).

Um dia fizemos diferente. Saímos depois do almoço e desta vez, éramos cinco amigas na fazenda e ao invés de irmos a cavalo para o rio, fomos numa charrete puxada por um jumento. Na ida, muita gasguitisse, riso. O jumento foi numa carreira só. Ô alegria grande.  Banhamos no Jenipapo até criar rugas nas mãos. O sol foi caindo e na hora de voltar pra casa, cadê que o jumento quis andar?! Quis não. Não tinha cipó, espora, chicote, nada que o fizesse dar um passinho sequer. Bateu o desespero. Cinco adolescentes da cidade grande distante da fazenda, no meio do mato e com um jumento pra fazer andar fosse como fosse.

Olha que era reza, era choro, era cobra verde passando por debaixo da gente. Era feito um revezamento. Uma ia puxando o jumento e as outras em cima da charrete. A que puxava sempre era que mais chorava. As que tavam em cima choravam pra dar o apoio(risos).

Anoiteceu e a gente lá com o medo aumentando igual juros de financeira. Nessa altura, tia Andréa, mãe da Marina, já estava fazendo promessa pras filhas alheias e a dela aperecerem. Tio Mariano já havia mandado os funcionários da fazenda atrás de nós. Até que por volta das 8 da noite, chegamos na cerca de arame farpado em frente à porteira da Volta. O belo do jumento ficou mesmo só amarrado na cerca. No aperreio que estávamos não dava pra fazer o caminho completo. Passamos por baixo do arame e depois pelo receptivo couro de cobra esticado.

Depois da bronca que recebemos, um convite inesperado. Na casa faltou luz e o pai da minha amiga chamou para conhecer a Bilheira, uma outra fazenda também da família. Esta com mais de cem anos e muitas histórias de fantasmas. Fomos, mas aí é prosa pra outra talagada de pinga.